Posted on 30/07/2017
Pré-requisitos
Esta é uma versão alternativa do tutorial em TensorFlow. Assim sendo, vou pressupor que você já está familiarizado com o tutorial padrão, o que tornará este tutorial muito mais rápido e direto. Não explicarei o passo a passo, nem cada linha de código. Em vez disso, espero que você consiga entender apenas traçando os paralelos entre este tutorial e o tutorial padrão, em TensorFlow. Além disso, a biblioteca aqui considerada é pensada para programação orientada a objetos, então é bom que você esteja familiarizado pelo menos com os conceitos de OOP.
Conteúdo
Introdução
Neste tutorial implementaremos uma Máquina de Boltzmann Restrita usando PyTorch. Será uma excelente oportunidade para comparar essa biblioteca com o TensorFlow e poderemos ver algumas vantagens e desvantagens óbvias de cada uma delas. Eu fiz essa implementação ser extremamente parecida com a do tutorial em TensorFlow, então tente traçar os devidos paralelos entre o que desenvolveremos aqui e o que vimos no tutorial padrão. Sem mais enrolações, vamos à implementação!
Implementação
Começamos importando algumas bibliotecas e funcionalidades do PyTorch para redes neurais. Também vamos usar os dados MNIST, que podem ser facilmente adquiridos do TensorFlow.
Vamos criar uma classe que implementa a Máquina de Boltzmann Restrita a partir do módulo de redes neurais do PyTorch. Na inicialização da classe, vamos inicializar as super classes e definir os parâmetros do modelo. Também vamos armazenar a quantidade de amostragem de Gibbs que usaremos para Contrastive Divergence. Note que os parâmetros precisam ser criados com nn.Parameter(...)
e não como simples variáveis Torch. Isso faz com que possamos utilizar as funcionalidades herdadas de nn.Module
, nesse caso a capacidade de gerar facilmente uma lista com todos os parâmetros do modelo e mover esses parâmetros para a GPU.
Em seguida, criamos um método para retirar amostras segundo uma distribuição Bernoulli, definida por um vetor de probabilidades p
. Se formos utilizar a GPU para o treinamento, precisamos lembrar de mover o tensor aleatório para a GPU após sua inicialização. Isso pode ser feito com o método .cuda()
. Também vamos definir um método que computa a energia média da MBR, dado um mini-lote de estados visíveis v
.
Depois, definimos dois métodos auxiliares sample_h
e sample_v
. Eles retiram amostras Bernoulli do estado oculto dado o estado visível e do estado visível dado o estado oculto, respectivamente.
Até aqui, tudo está extremamente similar à implementação em TensorFlow. Agora que definiremos as iterações de Contrastive Divergence com amostragem de Gibbs alternada é que veremos a dramática diferença entre as duas bibliotecas de Deep Learning. No PyTorch não precisamos lidar com um loop complicado que define nós em um grafo estático. Em vez disso, podemos usar a própria estrutura de for loop
do Python. Assim, a definição de um forward-pass fica muito mais elegante e fácil de entender. Primeiro, inicializamos o estado visível após k
iterações de Gibbs alternada para começar com o estado visível inicial. Em seguida, entramos no loop que realiza as iterações de Contrastive Divergence, com sucessivas propagações do estado visível para cima e para baixo na MBR. Então retornamos o estado visível inicial v
e o estado visível após as k
amostragens de Gibbs, vk
. Para que o PyTorch não realize backpropagation através das cadeias de Markov (iterações de amostragem Gibbs), utilizamos o método .detach()
para quebrar a corrente que computa os gradientes.
Isso finaliza a classe que implemente a Máquina de Boltzmann Restrita. Vamos criar uma instância dela com RBM()
. Se quisermos utilizar a GPU para o treinamento, precisamos mover os parâmetros da rede para a GPU com o método .cuda()
da instância. Para o treinamento, vamos utilizar a variação Adam de gradiente descendente estocástico, com uma taxa de aprendizado de 0,001.
O treinamento procede então na forma usual do PyTorch. A cada iteração de treino coletamos um mini-lote de dados, convertemos ele para um tensor Troch e o movemos para a GPU se quisermos acelerar o treinamento. Como os dados da MBR devem ser vetores binários, precisamos arrendondar os pixeis, que variam de 0 a 1. Com essa amostra, vamos realizar Contrastive Divergence com k
passos de amostragens de Gibbs para obter uma amostra do estado visível após essas iterações. O custo então é definido em termos da \(\log\) verossimilhança, que é a diferença entre as energias da MBR quando uma amostra de dados está nas unidades visíveis e quando amostras geradas pelo modelo após k
iterações de amostragem Gibbs. Esse custo faz sentido intuitivo. Ele captura a noção de que, idealmente, os dados, isto é, v
, e as amostras geradas pelo modelo, isto é, vk
, devem ter a mesma energia e, logo, a mesma probabilidade sob a distribuição definida pelo modelo.
Acima podemos ver uma outra vantagem do PyTorch sobre o TensorFlow. Como não estamos lidando com o grafo estático, podemos alterar a quantidade de amostragens de Gibbs durante o treinamento. Se quiséssemos fazer isso no TensorFlow, precisaríamos definir um novo gráfico, o que envolveria copiar os parâmetros treinados na execução do grafo anterior para o novo, ou seja, daria muito trabalho. No PyTorch, podemos simplesmente aletrar a varável que define a quantidade de iterações no loop que define o Contrastive Divergence.
Mas então qual é a vantagem do TensorFlow, nesse caso? Se o PyTorch oferece maior flexibilidade, o TensorFlow fornece maior velocidade e melhor integração com a GPU. O treinamento da MBR procede muito mais rápido no TensorFlow do que no PyTorch. Além disso, na minha GPU (GTX 1060), o PyTorch só usava 40% da capacidade computacional, enquanto que o TensorFlow batia os 90%. Não sou especialista em otimização computacional, mas chuto que isso aconteça porque o PyTorch volta para o Python muitas vezes no loop de treinamento, ao passo que o TensorFlow executa o forward-pass, o backward-pass e a atualização dos parâmetros tudo em baixo nível, voltando ao Python apenas para pegar novos mini-lotes.
Referências
Este tutorial é amplamente baseado no do deeplearning.net e é praticamente uma tradução de Thano para TensorFlow. Para um maior entendimento teórico sobre MBR, sugiro a parte 1 e a parte 2 da série de vídeos de Geoffrey Hinton sobre Máquinas de Boltzmann Restritas. Por fim, recomendo a parte 3 do livro Deep Learning, sobre as fronteiras de pesquisa em Deep Learning. O código deste tutorial está no meu GitHub.